quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Amarras

Criei amarras que me prenderam ao chão desta terra e às pessoas que trouxe comigo todos estes meses, criei hábitos, manias, moldes, habituações aos costumes mais estranhos e aos paladares mais exóticos. Enraizei, tornei-me parte deste sitio e este sitio parte de mim, chamei-lhe casa e vivi nele mil alegrias. Transformei-me, recriei-me e agora posso dizer que mudei. Adaptei-me e gostei de me adaptar, vivi mil corridas contra o tempo, saí para voltar. Fiz amigos que levo comigo para a vida, aprofundei outros, conheci. Encontrei pessoas que me fizeram rir e sentir-me confortável na minha própria pele. Desesperei, descobri mais vezes do que as que queria, que a vida é muito curta e extremamente imprevisível, que nunca devemos deixar nada por dizer. Despedi-me aos poucos das pessoas e dos lugares. Ainda volto, mas as amarras são desfeitas agora para que a despedida final custe menos. Assim, preparada para a exaustão da viagem vou com saudades daquilo que vivi mas na certeza que não podia ter aproveitado melhor cada segundo, cada gargalhada, cada noite, cada momento.


Desfaço agora os nós que me ligam a tudo para poder ir e encher-me de paisagens e vidas e culturas. Para poder ter em mim espaço que 5 meses não deixaram para o resto do mundo.




Levo-vos comigo a cada passo.

'pokito a poko etendiento que no vale a pena andar por andar, que és mejor caminá pra ir cresciendo'
Chambao - Pokito a poko

sábado, 19 de dezembro de 2009

O Paraíso Ecantado, Ilha do Mel






Caminhei com algumas reservas num sonho de mares a perder de vista e areais sem fim. Fascinei-me com as paisagens, os movimentos, as cores. Fiquei colada ao silencio e à calma que ressoavam dentro de nós. Com uma humidade que colava o ar à pele caminhamos cada trilha e cada palmo de terra numa vontade de ficar e viver e aproveitar cada minuto daquela ilha que ultrapassava e vencia todas as nossas expectativas irreais de paraíso em forma de pedaço de terra. Fomo-nos surpreendendo pela beleza a cada olhar, a cada minuto em que descobríamos do que era feito o mundo em que nos encontrávamos. Partimos sem termos o tempo suficiente para nos enchermos por dentro da magia única e brilhante daquele lugar e, apressados por outras partidas, com pouca vontade de despedidas dos lugares e das pessoas embarcamos num dos mais inacreditavelmente bonitos regressos a casa que já vivi! Ficam em nós as paisagens e as lembranças, os cheiros e as cores, as memórias coladas em nós de cada pedacinho que prendemos e guardamos para a vida.







'Numa vaga de espuma e sentidos guardados, no fundo do olhar'
Mafalda Veiga . Vestígios de ti




quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Proximidades


Chegamos com o peito aberto, apaixonados pela distancia e os dias, pelas pessoas e pelos momentos. Criamos laços e apegamo-nos aos sorrisos, aos olhares, aos pequenos nadas que as pessoas trazem consigo e que nos prendem e nos transformam. Começamos a por travões, a erguer em nossas volta barreiras, muralhas, daquelas que não querem deixar entrar quem vem, com o medo da saudade. Tememos pelas despedidas e pelas separações, fizemo-nos de duros e de valentes e levantamos paredes e estereótipos e conceitos em torno de tudo e todos. Contamos o tempo, e então tudo se mostrou com uma clareza obvia. Despedimo-nos desarmados de defesas, na certeza de uma saudade imensa que nos invadiu muito antes do momento da partida. Fizeram-se mil promessas de mil reencontros nos quais ainda acreditamos. E tudo isto para nos mostrar que não adianta negarmos as pessoas que nos preenchem em certos momentos, mesmo que fugazes, do nosso percurso. Que pouco importa a duração de um momento desde que o aproveitemos no seu todo. Que apesar das distancias e das saudades cada uma das pessoas que nos invade o caminho trás com ela brilhos e formas únicos que se apropriam de nós em certa altura e que nos moldam e nos talham e nos ficam marcados. Negar tudo isso é negar parte de nós e dos laços que criamos, dos caminhos que escolhemos que fazem de nós o que somos. Negarmo-nos aos sofrimentos e às saudades só nos nega também as alegrias mais entranhadas e as amizades que levamos para sempre marcadas na pele.







'O tempo endurece qualquer armadura, e às vezes custa a arrnacar, muralhar erguidas à volta do peito que não deixam partir nem deixam chegar'

Fim do Dia ( Do lado quente da saudade) - Mafalda Veiga



Aos amigos que por cá conhecemos e deixam (muitas) saudades.



1 mês e 11 dias - Próxima paragem.. URUGUAI,ARGENTINA,CHILE, BOLÍVIA, PERU

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Quase saudade..




Os demónios que me atormentam têem sido exorcitados em e-mails de meio metro entre palavras topregas que me saem sem pensar num desabafo constante desta quase saudade da casa de sempre. Sobram então menos plavras para por aqui, como se os discursos explicativos exaustivos esgotassem a minha necessidade de escrever (sempre foi assim, sempre em todos estes anos me acalmaste os medos e recolheste as minhas experiencias em palavras que guardas para ti). Tranformam-se então estas missivas de comunicação trasatlantica em focos de saudade intensa numa quase vontade de voltar para vos ver e preencher as memorias e os espaços convosco. Mas quando releio todas essas tentativas de comunicação à distancia, todas essas minhas histórias e resumos e emaranhados de palavras desordenadas sinto um aperto por pensar no fim, por pensar nos sins e nos nãos desta minha demanda pelo mundo, numa vontade imensa e inexplicavél de fazer alguns segundos durarem uma vida, e que os dias se extendam num nunca-mais-deixar-este-lugar. Vejo os nós mais apertados a desfazerem-se em despedidas e os abraços de não querer ir como um dia foi também ao vir embora. Vejo o tempo chegar ao fim e eu a fazer planos de mochila às costas pelo mundo fora o resto da vida, a ver-me em modos e cores difentes dos normais. Fica então não só o local como a mudança, as cores novas de que agora somos feitos, o que aprendemos, o que crescemos, as pessoas e os lugares que guardamos nestes meses que passaram como dias e que por isso mesmo deixam saudade.














mais proximos do fim a cada instante.















'Hoy yo te encontré al final del dia
Respirando cielo y horizonte'
Mafalda Veiga - Una Casa

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Encantos mil




Apaixonei-me pela tua natureza e simplicidade, pelas tuas paisagens, a tua luz e calor que entra em nós e nos muda. Fiquei presa aos teus lugares, aos teus recantos e às tuas pessoas. E desde o mais pequeno promenor da riqueza mais exuberante ao mendigo mais sujo apaixonei-me. Deixaste-me estonteada de beleza e felicidade desde as experiencias às rotinas. O verde e dourado que impões em nós inundados do teu azul turquesa infinito. O cheiro a quente e vento que nos preenche. Os sorrisos e as lagrimas no canto do olho de felicidade multiplicaram-se por mil, fizeste-me apreceber-me de mim e reconhcer-me em tanta coisa. Fizeste-me mais eu e agora sei que é quando nos julgamos perdidos que nos encontramos.




Cidade maravilhosa.







Foram dias unicos em risos brilhantes que não encontrei em mais lugar nenhum.


'vou cantar-te nos meus versos, Brasil samba que da, bamboleio que faz gingar'


Tom Jobim - Aquarela do Brasil






'e agora sei mais uma vez que a vida é curta demais para dela guardarmos só rancores, que o tempo não dura o suficiente para não o aproveitarmos, que o roubam de nós a toda a hora. Sei agora que temos que viver todos os pequenos momentos com a maior intensidade... Sei outra vez que não podemos ter medo de aproveitar de mais, de viver de mais, de gostar demais, sei que não podemos ter medo de ir embora, de viajar, de conhecer, não nos podemos inibir da dor que causam as saudades porque isso significa que vivemos e amamos e que quero-me arrepender unicamente das coisas que fiz, nunca das que deixei por fazer.



mais uma vez sei que nunca sabemos o tempo que temos... 'quando me achei me perdi'

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Uma Universidade que fascina - Semana das Artes

Os joelhos encheram-se de tinta e nós de sorrisos, pintamos o chão, e as caras, durante horas.. o resultado não podia ter sido melhor.




pequeno post microscopico só para vos mostrar algumas das iniciativas por cá!
























quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Malabares da saudade





Dentro de mim oscila o estado de nostalgia numa dualidade de sentimentos que me atrapalha e entorpece os gestos. As saudades dos afectos que nos são familiares e dos cheiros habituais, dos olhares que conhecemos tão bem como a palma da mão e que num instante nos lêem e nos desarmam, são saudades das cores intensas de quem nos conhece, dos sonhos de lá, às vezes da rotina entediantemente repetitiva que se instala. São as vontades dos abraços de volta e não de partida, das conversas, dos risos que não nos saem dos ouvidos, das mãos dadas e das conversas de café. São as vontades que tenho de vos ter aqui como sempre sobrepostas com a felicidade que sinto aqui, mais que em qualquer outro lugar, com a descoberta, as pessoas que não conheceria em mais lado nenhum, as gargalhadas que ecoam até às tantas em conversas que se estendem pelas noites, a proximidade, a partilha, a cumplicidade, esta roda viva de pequenos nadas que se embaraçam e se entrelaçam e nos fazem ser mais nós e menos as muralhas que construímos e nos escondem.

Vivo como uma bola de malabarismo a ser lançada pelos ares, no conflito interior das saudades. Ora da casa de onde vim, ora desta que criei aqui.









'tens os raios fortes a queimar todo o gelo frio que construí'

Tiago Bettercourt - Canção Simples

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Pós de prelimpimpim












Os acontecimentos sucedem-se uns aos outros e, entre pessoas e sorrisos novos, cores desconhecidas e terras vermelhas, descobrem-se maravilhas e momentos escondidos no fundo de um caleidoscópio brilhante nunca antes imaginados. Entre as paisagens fugidias e aquelas que se prendem no fundo dos olhos vamos capturando imagens de mil cores que temos a certeza de guardar para sempre. Descobre-se um mundo nos olhares de gente nova de cores garridas e contrastes puxados, de mãos estendidas e pés descalços e sujos, numa realidade que desconhecemos em paisagens que nos deslumbram e se estendem para dentro de nós. Damos-nos como parte destes caminhos que percorremos, com as pernas a gemer de tantas horas a palmilhar o chão de terras diferentes daquela a que os nossos pés já se habituaram. Os olhos não se cansam.. e então continuamos incansáveis até estar sasseada a nossa sede de mundos e lugares, de pessoas e diferenças, até estar completo o nosso lote dos momentos inesquecíveis e das luzes e brilhos que passamos a trazer gravados em nós.







Assim mesmo que por dentro se oscile entre a saudade e a nostalgia há um bichinho chamado mundo que nos puxa e faz, com pós de prelimpimpim, esquecer as mágoas e as tristezas com um sorriso que guardamos durante toda a viagem.




















'No teu olhar, eu adivinho a luz que esconde o cansaço, no avesso do luar... é que eu presinto que vens de tão longe que é teu o lugar onde as estrelas no fim se afundam'




Mafalda Veiga . Pressinto









pequenos nadas que nos marcam



quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Quase Casa


Cada dia mais a rotina, ou a total descoordenação dela, faz-nos sentir mais e mais aqui, menos do lado de lá, faz-nos sentir mais perto de quem está todos os dias aqui, menos alienados, menos desterrados, menos deslocados. Sentimos os pedaços de cor e os fragmentos de imagens como se fossem nossos e um hábito na pele de quem vai ter tempo para saborear este pedaço de terra que tem cheiros diferentes dos que trazemos no corpo, ainda vestígios de sempre. Sabemos que não vai ser para sempre e talvez seja isso que nos faz viver cada minuto.. quase já com a vontade de não ir embora.
Somos enrolados nesta rede de acontecimentos, de sítios e de pessoas que se deslocam a uma velocidade que tentamos acompanhar, num descompasso de emoções entre a saudade e a alegria pura, a felicidade. Mas no meio de toda a descoordenação vamonos moldando a este tempo neste espaço, habituando-nos aos moldes, às luzes, aos brilhos num lugar que quase se chama casa.






'eu já descobri a casa onde posso adormecer
já desvendei o mundo e o tempo de perder'
aqui tudo é mais forte e há mais cor no céu maior
aqui tudo é tão novo tudo pode ser meu

mas onde tudo morre tudo volta a nascer'



O lugar - Tiago Bettencourt

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Pedaços







As saudades libertam-se ainda todos os dias um bocadinho (menos) e enquanto desaparece o sentimento de estranheza de estar aqui vão se criando laços e momentos que não se poderia ter em sitio algum que nao fosse este. Enquanto nos vamos descobrindo um bocadinho mais de nós todos os dias, e se rasgam em nós sorrisos enormes e brilhantes de viver o que estamos a viver da maneira como o estamos a fazer.



Faltam-nos sempre as pessoas de sempre com quem gostariamos de partilhar cada minuto, mas há experiencias em que devemos dar um passo atrás no que vemos de nós e redercobrirmo-nos noutro lugar para podermos ser mais nós quando voltarmos...









a minha bolacha vai ter mil orgulho em mim: já bebi duas caipirinhas seguidas meu amor!! DUAS! e fiquei perfeitamente lucida!!! saudades*

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Chegar


Depois de 28h de transições e perdas de voo chegamos. Chegamos sem noção onde tinhamos aterrado, de onde estavamos, do que nos esperava, e essa noção ainda assim continua um bocado difusa! Continuo sem saber bem onde estou, sem me apreceber bem da distancia a que ficou toda a gente, muito menos do tempo que vai passar até eu regressar... até voltar aos dias do costume, às pessoas conhecidas, ao sotaque portugues nortenho, às casas com aquecimentoe água quente, às casas de banho onde o lavatório não faz parte do chuveiro, onde a net tem mais de 1mega, ao sitio onde as maças são mais baratas que as mangas, onde as pessoas não te estão SEMPRE a tentar vender alguma coisa, nem a dizer 'Tá' de cada vez que acabam uma frase, onde os portugueses não se comprimentam TODOS na rua e se reconhecem só de olhar para o ar perdido e fascinado uns dos outros por estar nesta terra onde o inverno rigoroso é uma primavera fesquinha e tudo parece tão diferente..

Restanos habituarmo-nos aos cheiros e às cores que vão preencher os nossos dias durante 6 meses...


mais noticias da cereija viajante em breve.. :)