terça-feira, 13 de abril de 2010

Velocidades


Voltar e partir não são acções, são pedaços de vida, de tempo e de espaço que se ocupam em nós e nos fazem moldar e entrar numa metamorfose interior que implica muito mais do que um qualquer meio que nos leve para longe. Não são distancias, são sorrisos que se perdem e se ganham no percurso, são olhares, são pedaços de nós que se deslocam cá dentro noutros modos e noutros tempos. Eu sei, hoje, que voltar e partir são lapsos temporais em que nos apagamos e nos viramos para nós, são correntes que não se regem pelos nossos ritmos, são tempos que correm e saltam compassos e pés que correm para os apanhar. São medos e inquietações que temos sempre, que brotam do peito emaranhados com a aventura e a vida e as vontades que somos incapazes de negar. São viciantes pelos tormentos e as alegrias que nos causam tão simultaneamente que nos rendemos ao facto de nos descobrirmos durante o processo. São travos amargos e doces que nos deixam a boca seca e os olhos molhados, as mãos contorcidas no colo e as pernas a tremer. São verdades, momentos de uma lucidez única, que despontam em nós revelações nunca imaginadas. Somos nós, de facto, a sermos quem somos de uma maneira extraordinariamente verdadeira e inegável a adaptarmo-nos às velocidades estonteantes a que as coisas acontecem dentro de nós e a aprender a paciência de contemplar a sua vagareza cá fora.



'Nunca parto inteiramente,

vivo de duas vontades,

uma que vai na corrente

a outra fica presa à nascente fica para ter saudades'

Manuel Cruz - Nunca parto inteiramente






'Estás habituada às coisas de lá, em que tudo acontece tão rápido.. tens que te habituar que as coisas aqui acontecem a outra velocidade.'