domingo, 7 de março de 2010

Voltar


Despi-me de fantasias e de viagens de sonho, de paisagens daquelas que se prendem em nós e não nos deixam larga-las, despedi-me dos tons de pele escura e dos dialectos desconhecidos. Fugi da confusão e das aventuras para me enterrar no abrigo que conheço como a palma da mão, mergulhada nos sons familiares e nos cheiros a casa. Mas foi quando achei que estava mais segura que o chão fugiu debaixo dos pés, que, no lugar das maravilhas e das pessoas de todo o mundo um vazio, um silencio dentro de mim que me atordoa os sentidos e me entorpece os gestos já cansados desta monotonia. São as saudades das conversas e das pessoas e das viagens, dos brilhos doces de que agora sinto falta, são as saudades dos azuis que me enchiam os dias, dos sabores tropicais e das manhas de rotina preguiçosa que duravam eternidades. São saudades até dos onibus apinhados, das estradas esburacadas e dos sotaques mais estridentes, dos batuques e das melodias. São vontades que eu tenho de sair pelo mundo e encher-me de poeiras e sujidades e cores que nos tornam tão mais verdadeiros. São vontades de ir e de me modificar, de descobrir algo em que acreditar, correr, aprender e voltar outra vez a pessoa que vim sem as preocupações que me enchem o peito nem as rotinas monótonas que me prendem e me transformam. - 'Esperando veleiros perdidos'




'Não se mostra o trajecto
A quem parte para se perder
...
E é como quando pensas que estás a chegar
E não deste um passo'

[Mesa - Boca do Mundo]




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